Série da Netflix é um experimento em que casais se conhecem apenas conversando, sem poderem se ver e traz o questionamento da importância da beleza na relação
Dar match sem se ver é possível? Essa é a reflexão da série da Netflix ‘Amor às Cegas’, que após fazer sucesso com a versão dos Estados Unidos, lançou temporada rodada no Brasil. O influencer e escritor Felippe Aragão, criador da página Meu Amigo Homem, considera a discussão primordial e afirma que o modelo proposto na produção serve de reflexão para todos. “Nos ensina que às vezes estamos nos relacionando com pessoas que nem conhecemos direito. Que precisamos conversar mais com nossos parceiros e que quem se pauta pela beleza e aparência irá facilmente se frustrar, pois relacionamentos duradouros têm base em atitudes e princípios, não na beleza”, destaca.
Na série, homens e mulheres são colocados para conversar em salas separadas, de forma que apenas escutem a voz um do outro, mas não possam se ver. O objetivo é analisar de que forma pode-se criar uma conexão profunda com alguém cuja aparência é desconhecida e, assim, focar apenas em aspectos mais profundos. Ao final, os casais que se formarem devem se casar. Para Felippe, a proposta traz o oposto do que é visto no cotidiano. “Nos dias atuais, as pessoas geralmente trocam algumas mensagens, conversam e, rapidamente, já se conectam sexualmente. Só depois é que há uma conexão mais profunda, sobre o que cada um acredita e sente, quando são compartilhados valores e objetivos. Há vezes em que essa conexão mais profunda nem existe”.
A série pode fazer os mais velhos lembrarem de décadas atrás em que havia serviços como o tele-amigos, espécie de sala de bate-papo por telefone. Ou ainda, os primórdios da internet, com salas de chat ou programas de conversa em que era difícil enviar fotos. Restava aos envolvidos conversar até surgir a oportunidade de se encontrarem pessoalmente. Para Felippe, ferramentas como essas comprovam que o amor pode ser cego. “Se formos chamar uma relação duradoura de amor, então realmente podemos supor que o amor é mesmo cego”.
Um ponto positivo nesta forma de conhecer alguém, na opinião de Aragão, é poder filtrar. A oportunidade de conversar mais profundamente evita armadilhas. “A ideia é explorar a sinceridade do parceiro. Buscar entrar em segredos que ela omitiu nos relacionamentos anteriores, inclusive traumas. É verdadeiramente uma entrevista sem filtros, saber o que cada um aceita e não aceita, mas lembrando que esta é apenas uma primeira etapa. A próxima etapa está no dia a dia, com os problemas e o tempo de relação. A grande sacada não é saber se a pessoa é ou será abusiva, mas sim abandonar um relacionamento infrutífero que comece a ser abusivo, pois até os relacionamentos abusivos são mar de rosas no início”.